Samuel
Fernandes Caldas nasceu em 1970 e é licenciado em História. Casado com Viviane
Borges Moraes Caldas, trabalhou como metalúrgico, motociclista, professor no
Colégio Constelação, na rede estadual de educação, e atualmente é professor de História
da rede municipal de educação em São Paulo. Seus principais passatempos são ler
e brincar com o filho caçula de três anos, junto com a esposa. Foi membro das
igrejas adventistas de Itaquera, Cidade Líder, Artur Alvim, Vila Cosmopolita, e
desde 1991 faz parte da Igreja Adventista de José Bonifácio, em São Paulo.
Nesta entrevista, concedida ao jornalista Michelson Borges, ele fala sobre um
assunto ao qual tem dedicado horas de estudo: o marxismo cultural.
Poderia definir marxismo cultural?
Primeiro,
é preciso reconhecer meus limites aqui; minha resposta, ainda que
sinteticamente verdadeira, pode não abarcar as amplas e complexas nuances do
tema. O que costumamos chamar de marxismo
cultural é, na verdade, o resultado de um desdobramento das ideias
principais de Karl Marx, mas com nova roupagem e métodos diferentes, mais
suaves, ainda que não menos maléficos em seus efeitos. Vale lembrar que Marx
via toda a História marcada por uma luta de classes, opressores e oprimidos, e
em seu tempo (século 19), entre burgueses e proletários. Para dar fim àquele
estágio da humanidade os proletários deveriam, segundo Marx, pegar em armas e
derrubar os burgueses do poder, estabelecendo assim a ditadura do proletariado, fase socialista do projeto comunista, que
deveria ser sucedida por uma etapa mais avançada e atingiria o auge com o
advento de uma sociedade sem papa e sem rei, onde todas as coisas seriam comuns
a todos.
Havia
também uma alternativa de revolução por meio da desapropriação da propriedade
privada em decorrência da crescente taxação tributária, paulatinamente, a fim
de não despertar levantes populares – o que parece muito com o que ocorre no
Brasil atualmente (desde o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, a
taxação no Brasil subiu vertiginosamente, e a tendência é piorar).
Como
o primeiro projeto falhou na Revolução Bolchevique de 1917, sobretudo porque na
Primeira Guerra Mundial o “proletariado” se empenhou em lutar por sua nação,
mostrando assim não ter nenhuma consciência de sua classe e função histórica,
Antônio Gramsci propôs o caminho da batalha cultural, assim como Georg Lukács e
os membros da Escola de Frankfurt, ou seja, não atacariam a infraestrutura
econômica/material da sociedade composta por burgueses e proletários numa
relação material econômica, mas a superestrutura cultural que dá fundamentos
àquela realidade.
A
superestrutura cultural que dá força à civilização ocidental é tripartite,
sendo fundada sobre o direito romano (propriedade privada, leis de proteção ao
indivíduo), sobre a filosofia grega (a busca incansável pelo real, pela
verdade, pelo belo, pela virtude na vida) e pela ética judaico-cristã (valores
como casamento heterossexual, da vida humana, da modéstia, da responsabilidade
individual diante de Deus, etc.). Esses são os objetos culturais que estão
sendo atacados a olhos vistos desde a década de 1920.
Mais
um detalhe: a Revolução Bolchevique (de outubro de 1917) foi um movimento de
alguns intelectuais russos de ascendência israelita em sua maioria, que
dirigiram as massas populares na sublevação e se aproveitaram da frágil
conjuntura russa de descrédito do governo, de insipiência da indústria, de desemprego
e da derrota para os japoneses em 1905, e depois houve também o domingo
sangrento em que, sob as ordens do czar, cerca de 90 pessoas foram fuziladas, a
fome reinante, a agricultura antiquada, do ponto de vista moral e religioso a
presença e influência de Rasputin na corte russa, a entrada do país na Primeira
Guerra Mundial, etc. Tudo isso acabou por criar o clima que propiciou a
instalação do socialismo. Antes que algum desavisado julgue que foi um
movimento puramente popular, de baixo, é preciso lembrar que tanto Lênin quanto
Trotsky foram patrocinados por banqueiros internacionais, tais como Jacob
Schiff (20 milhões de dólares), Max Warburg (seis milhões de dólares), Alfred
Milner, que era um representante da casa Rothschild (cinco milhões de dólares),
isso apenas para os primeiros meses da revolução socialista, depois teve muito
mais. (Ver o livro Política, Ideologia e
Conspirações, de Gary Allen e Larry Abraham, especialmente as páginas 63 a
82.)
Então, com a “queda” do comunismo,
as ideias comunistas não morreram...
A
ideia geral que se tem é a de que, com o fim da União Soviética (URSS) em 1990,
o comunismo teria acabado. Contudo, há fortes razões para concluir o exato
contrário, ou seja, que fazia parte da estratégia do movimento revolucionário
comunista mundial (a Internacional Comunista) a “queda” da URSS, justamente porque
a postura de resistência anterior seria desfeita, e com o reduto ocidental de
guarda abaixada, o golpe do marxismo cultural provocaria um nocaute no último
bastião da cultura ocidental. Isso seria o ataque definitivo aos Estados Unidos.
Desde
os anos 1950, na verdade, centenas de agentes soviéticos estavam infiltrados
nos EUA, inclusive no governo norte-americano e posteriormente na CIA. Além
disso, por ocasião da Segunda Guerra Mundial, alguns membros da Escola de
Frankfurt fugiram para os Estados Unidos buscando abrigo, e assim puderam
corroer a cultura americana de dentro das universidades, o que, por sua vez, preparou
em parte o terreno para os eventos da década de 1960, do movimento de
contracultura, da liberação das drogas, da liberação sexual, da ascensão do
feminismo (muito embora o feminismo tenha surgido antes, o movimento cresceu
mais fortemente a partir daí), da rebelião contra os valores familiares, os
valores morais em vigor, etc.
Existem hoje variantes do marxismo,
digamos, original. Nenhuma presta?
Não
existe uma só variante que preste. Como as bases dos estudos de Karl Marx estão
viciadas desde sua origem (vide Marxismo
Desmascarado, de Ludwig Von Mises, e também desse autor A Mentalidade Anticapitalista). De
índole marxista, ainda existem os trotskistas, que pretendem a missão de
restaurar um marxismo mais próximo de Marx, mas esse tentáculo revolucionário
tem pouca expressão no mundo, se comparado com o marxismo cultural. No Brasil
temos o partido PCO dessa linha; em outros países há outros exemplos. Ao que
parece, quanto mais próximo do pensamento marxista, tanto mais truculento, e,
por outro lado, quanto mais distante de Marx, tanto mais cultural o método da
guerra.
Numa
visão superficial, a impressão que se tem é a de que alguns acertos foram
alcançados. Por exemplo, alguém poderia alegar que um clima de independência
maior ou de igualdade social foi atingido. Mas, quando comparado com as
melhores sociedades ocidentais, a igualdade comunista era nivelada por baixo,
dirigida pelo estamento burocrático dos sovietes, da nomenclatura, como diz
Mises.
Mas
creio que o mais importante seja destacar que pouco importa ao neomarxismo a
forma em que se manifeste, desde que haja o conflito cultural em que os pilares
do Ocidente sejam destruídos, os mesmos que impedem o “progresso da história”
para o advento do paraíso comunista na Terra. Saul Alisky (Regras para Radicais) e Ernesto LaClau, este último invertendo a
base econômica (a infraestrutura) para a superestrutura, dizem abertamente que
a propaganda revolucionária cria a classe que a representará.
Os
críticos do marxismo, ao revisar a base econômica que, segundo Marx, era a base
do movimento histórico, pensavam ter destruído o movimento, quando de fato mal
tinham arranhado sua estrutura.
Este
texto nos ajuda a perceber os resultados da cultura comunista: “O socialismo, o
coletivismo e seus agregados políticos e culturais são, no fim das contas,
apenas a última consequência de nosso passado; são as últimas convulsões do
século 19, e somente neles é alcançado o nadir de um desenvolvimento de séculos
na direção errada; são o estado final e sem solução para o qual estamos sendo
arrastados, a não ser que façamos alguma coisa” (Wilhelm Ropke, The Social Crisis of Our Time, p. 201).
Na prática, no dia a dia, de que
outras formas essas ideias repercutem na sociedade atual?
Podemos
sentir a influência das ideias do neomarxismo no ativismo judiciário, nas ONGs
envolvidas nas causas dos direitos humanos, na destruição da linguagem com as
ideias de Jacques Derrida, do desconstrucionismo; um exemplo disso na
literatura é a “novilíngua” do livro 1984,
de George Orwell; na destruição da moral por meio de filmes hollywoodianos
(vale lembrar que a esmagadora maioria dos produtores de Hollywood é
esquerdista, portanto revolucionária). Também na educação brasileira, com as
obras de Paulo Freire, enquanto nos EUA e Europa com autores como Allan Bloom,
Marjorie Perloff e Peter Brooks. Apenas a título de exemplo, considere esta
citação: “Considere o Postmodernism,
Sociology and Health (1993) de Nicolas Fox, sociólogo que ministra palestras
em escolas de medicina inglesas. O senhor Fox assegura aos seus leitores que
termos como ‘paciente’ e ‘doença’ são ‘ficções sociológicas’ que podem ser
melhoradas por ‘elementos da teoria feminista e conceitos derrideanos de
difference e intertextualidade’” (citado em Keith Windschuttle, The Killing of History: How Litarary Critics
and Social Theorists are Murdering Our Past. New York: Free Press, 1997, p.
13, extraído do livro Radicais nas
Universidades, de Roger Kimball, p. 48).
Fale um pouco mais sobre a relação
entre marxismo, feminismo e ideologia de gênero?
Como
o movimento marxista não conta mais com o proletariado como classe histórica,
literalmente “massa de manobra”, o discurso revolucionário cria a classe “proletária”,
por assim dizer. É nessa perspectiva que o feminismo, os afrodescendentes, os
gays, as lésbicas, os pobres e até os criminosos são usados como ponta de lança
da revolução, pois são oprimidos de uma sociedade “injusta”, daí as leis
abusivas, que pretendem salário para as famílias dos presidiários, a proposta
recente de décimo terceiro salário para eles e as cotas universitárias, tão
problemáticas. As supostas (in)justiças partem do falso conceito de igualdade,
que transcende a igualdade jurídica e do juízo final, para entendê-la como
igualdade ontológica, psicológica, etc. Quando, se partirmos do real, como
fazia Aristóteles, facilmente veremos em nosso círculo mais próximo, a família,
por exemplo, que nenhum de nós é igual ao outro. Os gostos, os talentos, a
estética de cada um são distintos; também o meio em que cada um existe, mesmo em
uma família é frequente que um filho tenha vivido com os pais momentos
econômicos que o influenciaram de modo decisivamente diferente do outro, o que faz
deles pessoas irremediavelmente únicas. Mas o movimento do marxismo cultural
deve ignorar tudo na busca da transformação social, da práxis de Marx como base
teórica, que, novamente, se mostra anticientífica, pragmática, pois não existe
verdade, o que existe é o discurso que justifica o projeto de tomada de poder.
Você defende o patriarcalismo
bíblico. O que é isso e por que não se trata de machismo?
Não
defendo a postura de superioridade moral, de poder masculino sobre a mulher,
isso seria uma espécie de ditadura familiar. Creio, por outro lado, que Deus
criou homem e mulher, macho e fêmea semelhantes a Deus, segundo Sua semelhança.
Assim, ambos são equivalentes em sua origem, em sua importância diante do
Senhor.
No
entanto, embora reconheçamos essas similitudes entre os dois sexos, há
também distinções no plano funcional. Citemos, por exemplo, o papel de chefia
confiada a Adão ao dar nome aos animais, como se Deus estivesse determinando
ser ele o responsável por eles. Então, logo após, Deus faz a mulher a partir de
sua costela e a apresenta ao homem que, novamente, dá a entender que ele é o
responsável por ela; e o homem lhe dá o nome. Depois do pecado de Eva, nada
aparentemente ocorreu com ela. Apenas quando o homem comeu do fruto proibido,
diz a Escritura Sagrada, perceberam que estavam nus (Gênesis 3:7).
Mas
os papéis funcionais masculino e feminino são mais claramente vistos no Novo
Testamento. O apóstolo Paulo parte da divindade para a humanidade, em sua
comparação funcional (não ontológica) em 1 Coríntios 11:3: “Mas quero que
saibais que Cristo é a cabeça de todo o homem, e o homem a cabeça da mulher; e
Deus a cabeça de Cristo.” Assim como Cristo não é inferior ontologicamente ao
Pai, mas apenas funcionalmente, assim também no casamento o homem e a mulher,
embora iguais ontologicamente, são distintos funcionalmente.
Você não acha que as mulheres devem “se
garantir”, para o caso de o homem faltar com suas obrigações? Não seria bom que
elas se capacitassem para funções além de ser mãe?
Sim,
claro. Creio que, assim como diz a mensageira especial de Deus para a Igreja
Adventista do Sétimo Dia, Ellen G. White, os jovens só devem começar o namoro
assim que estiverem se sustentando por trabalho. Então, a capacitação para
trabalhos profissionais e domésticos é fundamental ao casal, não apenas para o
homem. E se respeitados os conselhos de Deus, o casamento será, como diz a
Escritura, até que a morte os separe; assim, se eu faltar para minha esposa, ela
deve estar preparada para assumir o sustento e o cuidado de nossos filhos e do lar.
Espero que nossas jovens busquem ao Senhor e se preparem; dessa maneira serão
uma bênção ao mundo, mesmo quando estiverem desamparadas pelo marido.
Com tantos “ismos” por aí, por que
você escolheu o adventismo?
Embora
tenha nascido em um lar adventista, de pais e avós maternos da mesma fé, tive
um bom fundamento durante minha infância na Escola Sabatina de Vila Ré e de
Itaquera, mas, sim, tive contato com várias igrejas por meio de amigos que fiz
na escola. Creio que pela providência de Deus nenhuma ideologia me atraiu,
senão a música rock e os esportes
radicais, como o bicicross. A bênção é que, mesmo nesse período, em meu coração
não havia paz; sentia um vazio na alma. Cheguei a ter depressão, mas ouvia os
hinos do quarteto norte-americano The King’s Heralds e do quarteto Mensagem, do
qual meu pai era segundo-tenor; assim a música sacra foi um veículo da verdade
de Deus para mim. Mas minha conversão se deu quando assisti a uma série
evangelística da Igreja Adventista chamada Projeto Sol, no ginásio do
Ibirapuera, com o pastor Alejandro Bullon como pregador. Deus falou ao meu
coração por meio daquelas mensagens cantadas e pregadas, e por fim me decidi
pelo batismo. Desde então nunca mais fui vítima de depressão, a paz de Jesus
Cristo, Justiça Nossa, pela mensagem da justificação pela fé, encheu meu
coração. Uma das minhas maiores alegrias foi ter sido chamado para ser
professor da Escola Sabatina, na minha amada igreja de Conjunto José Bonifácio,
COHAB II, zona leste de São Paulo, e fico muito feliz quando sou chamado a
pregar.
Como foi seu período na
universidade? Com que ideologias se deparou? Foi influenciado por elas? Como se
libertou delas?
Foi
tenso, um verdadeiro choque de cosmovisões. Quanto ao relativismo e ao
minimalismo histórico, consegui resistir. Todavia, não demorou a me identificar
com a ideologia de Karl Marx e me tornar um militante. Antes mesmo de entrar
nesse ambiente, eu já votava nas esquerdas desde 1989, mais por sentir, pelo
discurso político revolucionário, que os pobres nunca seriam atendidos com os
políticos profissionais no estamento burocrático do governo.
Apenas
em 2014, dois anos após concluir minha licenciatura em História, libertei-me
daquele “canto da sereia”. O livro que me trouxe a lucidez, revelando a
verdadeira face do comunismo sob a máscara das “minorias”, da “igualdade”, e que
me informou tudo o que na universidade evitaram, foi O Mínimo que Você Precisa Saber Para Não Ser um Idiota, do filósofo
e analista político Olavo de Carvalho. Nos mais de 15 livros dele que li após a
universidade, encontrei muito mais em suas análises culturais, históricas,
políticas e filosóficas, além de ótimas dicas de autores e livros, do que a
ortodoxia marxista universitária jamais me daria em acesso à alta cultura.
Em geral, quais os principais pontos
de discordância entre cristianismo e marxismo cultural? E, especificamente,
entre o adventismo e o marxismo cultural?
O
cristianismo bíblico crê no dever e na responsabilidades individuais; no
marxismo o que existe é a classe, o coletivismo, não há lugar para o indivíduo
como tal; tudo o que diverge da classe revolucionária é combatido. A proposta
comunista é de estabelecer um paraíso terrestre, uma imanentização da religião,
quando no cristianismo esperamos por ser introduzidos na pátria celestial;
nossa cidade é de cima. O marxismo tem uma concepção otimista do homem, como se
ele fosse essencialmente bom, mas a Bíblia ensina que somos maus por natureza
(Efésios 2:3), que fomos concebidos em pecado (Salmo 51:5), que nossas melhores
obras são impuras diante de Deus (Isaías 64:6).
Quanto
ao adventismo do sétimo dia, tenho para mim que surgiu por vontade e plano
divinos, do cumprimento de uma profecia bíblica, no exato momento em que a
cristandade estava seriamente ameaçada pelo cientificismo novecentista, pelo Iluminismo,
pelo darwinismo e o comunismo. Assim, Deus nos chamou para fazer frente ao erro
com a verdade da Palavra de Deus. Não podemos aceitar as ideias humanas
comprovadamente erradas como se fossem inocentes, compatíveis com nossa missão.
O dever, a missão, o caráter profético da Igreja Adventista do Sétimo Dia, seu
corpo doutrinário firmado a partir da Bíblia, somente, da Sola Scriptura, não nos permitem concessões. Precisamos, pela graça
de Deus, manter íntegra nossa identidade; assim passaremos, em breve, de uma
igreja militante para triunfante, na glória.
E o que dizer a Teologia da
Libertação? Como você vê a tentativa de fusão entre cristianismo e marxismo,
como se tentou fazer com essa teologia?
Nikita
Serguêievitch Khrushchov, primeiro-ministro da URSS, inventou a Teologia da
Libertação na década de 1950, mas apenas a partir de 1968, num congresso
internacional, ele apresentou suas ideias, implementadas anos depois. O projeto
era seguir a estratégia de Antonio Gramsci, de não combater a religião, mas
corrompê-la por dentro, tornando-a uma caixa de ressonância das ideias
revolucionárias. O padre Gustavo Gutierrez, em seu livro Religión, Instrumento de
Liveración (1973), anos depois, escreveu o primeiro livro sobre o tema;
apenas nove anos depois, Leonardo Boff surge no cenário nacional. A Teologia da
Libertação tem duas camadas discursivas, uma descritiva e teórica e outra que é
um discurso apelativo, unificador da militância, no qual ela se reconhece.
O
cardeal Ratzinger, posteriormente, analisou apenas os aspectos
descritivos/teológicos da tese, enquanto a camada politizada subjacente passou
despercebida. Enquanto os católicos conservadores relaxavam julgando ter sido
destruída a heresia, ela estava mais forte do que nunca, espalhada pela América
Latina, especialmente no Brasil. A Igreja Católica foi feita caixa de
ressonância das ideias revolucionárias, esvaziada de seu conteúdo doutrinário
tornara-se politizada, mundanizada.
Diante
disso eu me pergunto: Os demais cristãos têm se acautelado quanto ao perigo de
perder seus valores distintivos pelos efeitos sutis das ideologias reinantes? A
evidência aponta no sentido de uma infiltração em todas as igrejas...
Que livros você indica para alguém
que queira se inteirar dessas questões?
Sobre o marxismo cultural indico Radicais nas Universidades, de Roger Kimball.
Na mesma linha de análise, mas de forma mais ampla, indico toda a série “Cartas
de um terráqueo ao planeta chamado Brasil”, e o livro O Mínimo Que Você Precisa Saber Para não Ser Um Idiota, organizado
por Filipe Moura Brasil, com textos do professor Olavo de Carvalho. Do Olavo,
também indico o livro Nova Era e a
Revolução Cultural – Fritjof Capra e Antonio Gramsci, mais o livro O Jardim das Aflições – de Epicuro à Ressurreição
de César: Ensaio Sobre o Materialismo e a Religião Civil – talvez este seja
o livro mais bem escrito que existia sobre o espírito revolucionário, a
destruição do conhecimento e da alta cultura.
Seguindo
a mesma linha de análise cultural, com um refinamento e uma sutileza britânica,
sugiro Theodore Dalrymple, em Nossa
Cultura... ou o que restou dela. Do Mário Ferreira dos Santos, seu livro Invasão Vertical dos Bárbaros é
fantástico em seu acerto crítico e simples em sua linguagem. Outro inglês
fundamental para uma pesquisa da matéria é Roger Scruton, nos livros As Vantagens do Pessimismo e Pensadores da Nova Esquerda; neste
último temos uma análise filosófica das proposições dos principais teóricos da
esquerda, quatorze deles. Eu não poderia deixar de lado um espanhol implacável
para o feminismo, igualitarismo e marxismo, o filósofo José Ortega y Gasset, em
seu livro Rebelião das Massas.
Também
sobre o pensamento do próprio Karl Marx, do ponto de vista econômico e
cultural, indico a leitura de Marxismo
Desmascarado e A Mentalidade
Anticapitalista, de Ludwig von Mises.
Quanto à origem e desenvolvimento dos escritos de Marx como patrocinado por
banqueiros internacionais, da origem e manutenção da Revolução Russa, é
obrigatória a leitura do Política,
Ideologia e Conspirações, de Gary Allen e Larry Abraham. Valerá como
acréscimo a leitura do livro Introdução à
Nova Ordem Mundial, de Alexandre Costa.
De
todos os que citei até agora, nenhum conhece tanto da relação do marxismo na
América Latina quanto Heitor de Paola; seu livro O Eixo do Mal Latino-Americano e a Nova Ordem Mundial é o mais
esclarecedor que já li, o mais impactante, rico em fontes históricas.
Semelhantemente ao dele, está a Hidra
Vermelha, do historiador Carlos Ilich Santos Azambuja, tão preciso quanto
Heitor de Paola, mas menos atual, por ter sido concluído na primeira metade da
década de 1980; é farto em documentos históricos e exato na análise do comunismo
mundial.